sábado, 13 de novembro de 2010

#8


Muita coisa aconteceu nessas quatro semanas que deixei de dar as caras por aqui. Enfim, as aulas começaram de verdade. Devo admitir que criei expectativas altas sobre os professores e a faculdade, mas a demora para o início das aulas causou-me grande desânimo. Já é novembro e ainda não estou em pânico, afogando em trabalhos mirabolantes com prazos curtos para entrega. Quero pânico! Quero pânico!

Apesar disso, passou-se tempo suficiente para que uma crise artística me atingisse. Sempre fui muito auto-exigente em relação aos meus trabalhos, mas eram raras as vezes que minha instafistação atingia níveis desconcertantes. Deparar-me com dificuldades e desafios sempre foram motivos maiores para a busca de novos conhecimentos, o que inconscientemente me levava a realizar os procedimentos da forma mais perfeccionista e complicada. Ao encarar a triste realidade "brasileira em portugal", percebi que, por maior que fosse minha gana pela perfeição, nunca conseguia alcançar o nível extraordinário de talento que dominavam certas pessoas. A insatisfação com minhas criações e a inveja das habilidades alheias finalmente venceram meu otimismo.

Eis que, Barcelona!
Não poderia ter vindo em melhor hora. Realmente não havia criado muitas expectativas em relação à viagem, além do fato de ser Barcelona, claro. Se tivesse planejado, não havia de ser tão bom. A cidade tem um ar grandioso como São Paulo, mas com o charme europeu e a língua estranha catalã.





A primeira parada foi a Fundació Antoni Tàpies. Há muito tempo não ia a uma boa exposição e já havia esquecido qual era a sensação. É algo difícil de explicar, e talvez só entenda quem realmente aprecia e admira a arte. Foi um bombardeio de informação e inspiração que recobraram o estímulo que havia perdido há pouco.





Já em êxtase, a Sagrada Família foi o nirvana. Os 10 euros desembolsados valeram cada centímetro observados mais de perto da maravilhosa obra de Gaudí. O interior estava um certo caos pela chegada do Papa dali a dois dias, mas não impossibilitou que víssemos a cidade a 170m de altura, do pináculo da igreja.





Como se não fosse o bastante, o Park Güell foi praticamente uma overdose. Mais uma vez Gaudí, um cara sem-noção, nos deixando sem ar. Os famosos mosaicos nos bancos curvilíneos, a salamandra multicolorida, a música catalã como banda sonora (trilha sonora). Se pudesse ainda estaria lá, sentada nos bancos uber-ergonômicos, pensando em nada e vendo o sol se pôr.




Palácio Nacional


Fundació Joan Miró, Palácio Nacional, Caixa Fórum, Las Ramblas e La Pedrera. Mais fascinação, mais admiração e, no fim do dia, mais Gaudí pra morrer de vez. A Casa Milá (La Pedrera) ao fim do dia é um prato cheio para fotógrafos alucinados.
Já saturada de felicidade, a exposição de Javier Mariscal sediada no local foi uma surpresa inexplicável. Você, aspirante a designer, veja o quão extraordinário é este homem e sinta-se um nada por saber que não és nem um terço do que ele é. Por um momento o sentimento "não tenho talento, nunca serei uma boa designer" voltou, perante este ser superior. Mas, ao mesmo tempo, injetou-me a medida exata de adrenalina que estava precisando para elevar minha auto-estima.



La Pedrera



E, enfim, Picasso. Tivemos sorte de ir no primeiro domingo do mês, que é de graça, e prestigiar a exposição "Picasso Devant Degas". Nesse dia, sim, o sentimento "você é um nada, desista da arte" bateu com um taco de baseball nas nossas cabeças. Picasso, com 14 anos, pintava melhor com o pé do que eu com 6 mãos. E em muitos momentos uma emoção inexplicável surgia bruscamente, como ao deparar-me com "A Bailarina de 14 anos" do Degas. Sabe o que é estar a frente de algo tão incrível que faz sua garganta fechar e seus olhos encherem de lágrimas? Eu não sabia, agora eu sei.




E, para concluir com dignidade a viagem, molhar os pés no Mar Mediterrâneo, jogar pedrinhas coloridas no mar, tomar um copo de cerveja de 5 euros. Apesar de ser tudo três vezes mais caro que o Porto, foi tudo dez vezes mais incrível que eu poderia esperar. Foi maravilhoso e espero poder voltar lá algum dia. Obrigada, Le e Marcus pela companhia, e mãe e pai, por essa oportunidade. :)

Quanta saudade do Brasil.

Beijo. Beijo.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

#7

Estação de Comboio — Campanhã



A chuva chegou para prestigiar nossa viagem para Lisboa! Mas apesar de uma sexta-feira nebulosa e escorregadia, o final da semana teve momentos ensolarados e ligeiramente aquecidos. O Museu de Calouste Gulbenkian tem mais exposições que todas que já vi na vida. E a casa do Pedro Toda, Mackmate atual estudante de design em Lisboa, tem a maior diversidade de vinhos de Portugal. Ou pelo menos na noite do jantar "pasta con pesto" feito pelos italianos.



Praçca do Comércio — Lisboa




Paradas obrigatórias de um turista em Lisboa: Praça do Comércio, Torre de Belém, Mosteiro dos Jerônimos, Catedral da Sé, Castelo de São Jorge, Oceanário. Tirando o "Oceanário, maior da Europa", o resto é igreja, igreja, igreja, e... castelo. E os famosos pasteizinhos de Belém que são bons, mesmo.



Vista do Castelo de São Jorge — Lisboa



Do Castelo de São Jorge tem-se a vista da cidade quase inteira. Bem feio, eu diria.
Mas depois de uma viagem de uber caminhadas, nada como acordar na segunda-feira às 8h, clamando pelas aulas de Vídeo e Cenografia. Afinal, sim, agora temos professores que realmente trabalham e dão aula. E mal começaram, já estamos levemente assustadas com o ritmo europeu/português/não-brasileiro da vida acadêmica. Alunos dedicados, concentrados, comprometidos, responsáveis? Quem são vocês?

E não poderia deixar de citar publicamente que estou fazendo treinos de escalada. No primeiro treino foi altamente emocionante chegar ao topo do circuito, mesmo que depois não tenha conseguido nem segurar uma caneta e escrever meu nome num papel. Mesmo que tenha ficado três dias impossibilitada de elevar meus braços acima da cintura. E antes de qualquer comentário, não é tão fácil quanto parece.



Castelo de São Jorge — Lisboa



Enfim, depois de 7 semanas posso dizer que amo o Porto. Lisboa é cidade grande, muitos carros, muito movimento, muita gente, como São Paulo. O Porto é muito menor, mais aconchegante. Três dias fora do Porto já nos deram muita saudade e, apesar de não conhecer mais nenhuma cidade de Portugal, tenho certeza que nenhuma será melhor do que aqui. Acho que só na Páscoa, quando planejamos ir para Londres, isso mudará. Mas até lá, vou manter minha monogamia pelo Porto.

Beijo. Beijo.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

#6


Não foi tirado no apocalipse, é meramente ilustrativo.


Sem maiores emoções e novidades, essa semana foi só uma reprise do episódio "os professores não querem dar aula", mas com uma adaptação para a versão "a geladeira voltou a funcionar". Realmente o maior acontecimento da semana foi ontem, quando um "furacão" resolveu tocar o apocalipse na cidade, com vento e chuva que nos trancaram em casa. Não que tivesse muita coisa para fazer num domingo, afinal tudo fecha e não há vida nas ruas. O tempo glorioso foi só um "oi, tudo bom" do que nós achamos que será o inverno.





50% das vezes que acordamos às 7h da manhã esperançosas por aulas, é com isso que nos deparamos ao chegar à faculdade. O pavilhão sul (da foto) habitado por mais dois ou três alunos tão iludidos quantos nós, a olhar para o rés-do-chão (térreo), rezando para que apareça um professor ou qualquer sinal de vida humana. A porcentagem tem diminuído diariamente, à medida que os professores voltam das suas viagens ou doenças.




E um costume bizarro e assustador que reina por aqui, é a praxe. Nosso trote. Mas nada equivalente ao nosso trote, infelizmente. Centenas de alunos vestidos de preto, com mantas no maior estilo Harry Potter, fazem uma mega procissão que parece caminhada para a execução dos criminosos. Entre eles vão os caloiros (calouros) com chapeuzinhos vermelhos e latas amarradas aos pés. Mas minha impaciência e indiferença não superou a curiosidade, logo não posso explicar o que acontece no final.





Essa foto não tem contexto nenhum e eu não sei o que estava fazendo quando a Le tirou-a, mas... Achei que super ia servir pra lembrar que ontem foi aniversário do meu irmão e cantei "parabéns pra você" daqui, com direito a sotaque e ataque de riso. "Pãra u mnino Gilberto, umã salvã d palmãsh". :)

Beijo. Beijo.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

#5

Praia dos Ingleses — "Posa e finge que não está um vento uó nem um frio de 9ºC."



"Zdravo!".
Ou algo do tipo. Nossas amigas eslovenas nos ensinaram, significa "oi".

Enfim…
Oi, tudo bem? Não. Ainda estou sofrendo com a crise "nossa geladeira parou de funcionar e metade da comida foi pro lixo" e "os professores não querem trabalhar e minhas aulas não começam nunca". Isso desencadeia as crises "tomando chá gelado-quente" e "acordando às 7h porque eu curto ser palhaça". O fato da geladeira ter parado de funcionar é inexplicável, mas mais inexplicável ainda é dois terços dos professores não aparecerem na faculdade nem pra dar um "olá". Estou de férias desde 22 de junho. Oi, aulas do Luiz Gê, que saudade.

Mas fora isso… Muitas tardes de tédio e dias de Maria, lavando roupa, louça, banheiro, geladeira mofada. O Outono chegou anteontem e meu vestuário tropical-veraneio já está encostado no armário. Fomos à Praia dos Ingleses para aproveitar uma sexta-feira sem aula (não me diga) e o Sol que será raridade daqui algum tempo.



Foto por Leticia Melli, a fotógrafa da performance


Enquanto vamos todos os dias pra faculdade só pra fazer social com os 900 mil brasileiros que habitam aquele lugar e esperamos as aulas começarem, a vida cultural continua um tanto quanto inovadora. Outro dia participei de uma performance do Maia, que é artista plástico. Performances não se explicam em palavras, são inexplicáveis até para quem as assiste. Eu era a baterista de uma banda de rock. Hã. Depois de fazer um estardalhaço que durava 10 segundos, havia uma longa espera pelo início do "show", que nunca aconteceu. E era essa espera, os olhares entre os músicos, os gestos, que resumiam a performance.
Eu disse que era inexplicável.

Não consegui fazer muitas panorâmicas dignas, porque pelo jeito a urucubaca tá afetando até minhas fotografias. Vou tomar um banho de sal grosso e benzer a casa, que deve ter um rato morto bloqueando a rede elétrica.



Beijo. Beijo.

domingo, 19 de setembro de 2010

#4



Enfim, temos uma nova casa! Depois de muitas visitas a lugares sombrios e bizarros, encontramos a casa da Raquel (L), que fica no único prédio moderno da cidade. Ela também faz design na U.Porto e aquele cafofo no canto direito da sala é o quarto dela. Nos mudamos na sexta e, uau, temos armários.




Pegamos nossos camelos e fomos até o IKEA, uma Etna uber grande e barata. Infelizmente depois das 20h30 fica difícil habitar meu quarto porque está com problemas elétricos e não tem luz. Mas quem precisa de luz quando tenho uma cama de casal só pra mim.





Outro dia teve jantar multi-étnico na casa da Lhaís e da Shiau. Eslovenas, italianas, brasileiras, mexicana. Só mulher feia. E, claro, com muito vinho e o charme do bigode lusitano.





Já faz um mês que estamos aqui e só amanhã começam nossas aulas. Mas exercitamos muito nosso intelecto com filmes cult (alguns até demais) e peças de teatro incompreensíveis, organizados pelos nosso amigos portugueses. Apesar da lavagem cerebral que esses eventos nos proporcionavam, a cerveja na esplanada (algo como "parte descoberta do bar") com vista para Gaia sempre fazia valer a pena. Muito giro (lindo).

Acho que esqueci minha inspiração para escrever na casa antiga.

Beijo. Beijo.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

#3


Casa da Música

Eis que estou de volta depois de um tempo de ausência. Foram tantas emoções que já nem lembro mais de todas. Dia 3 de setembro foi aniversário da Le e fizemos uma uber festa na casa do Maia. Meu escondidinho e minha torta de frango foram um sucesso, obrigada. E fomos à balada (de verdade) pela primeira vez. Chama Tendinha e é quase uma Funhouse. Um achado para uma cidade de uns 350 mil habitantes. A vida noturna está mais que aprovada.




É difícil identificar algo coeso nessa montagem, e ainda mais difícil de indentificar que é um McDonald's. Fica na Praça da Liberdade, aqui do lado de casa. O McDonald's mais bonito que já vi, com candelabros e vitrais. E fico até emocionada em dizer que a comida de lá é COMIDA mesmo, com gosto de pão, carne e alface de verdade.



Outro dia descobrimos que estamos sem teto. O quarto que íamos alugar foi alugado por outra pessoa e estamos temporariamente à procura louca de um lar. Enquanto isso permanecemos no nosso muquifo por mais algum tempo.

Nessa foto é a Estação Ferroviária do Porto — São Bento. Tem azulejos portugueses típicos, arquitetura típica e a Letícia posando para minhas fotos típica.



Havíamos planejado, e até reservado, uma viagem para Lisboa nesse final de semana, mas o imprevisto do apartamento nos obrigou a cancelá-la. Ficamos por aqui mesmo e fomos até a ribeira do Rio Douro, com vista para a Vila Nova de Gaia. Ao pôr-do-sol, sentamos em um bar árabe, com tapetes e almofadas no chão. Bem feio, como podem ver. Mesmo quando as coisas dão um pouco errado, é tudo maravilhoso. Ai, que vida ruim.

Beijo. Beijo.

terça-feira, 31 de agosto de 2010

#2



Assisti ao meu primeiro show no Porto! SWU e Planeta Terra, que nada. Aqui tem Dário de graça na praça. Pra quem não conhece o Dário, sucesso do Porto, ele é cantor de sertanejo português. Um luxo.
Mas nem precisávamos ter ido até lá para prestigiar seu talento musical, porque a música invadia nosso apartamento. Cheia de gente bonita, descobrimos que a Praça da Liberdade é equivalente à Praça da Sé.




A Fundação Serralves é sede do Museu de Arte Contemporânea, onde assistimos a duas exposições. Na parte externa há um parque com algumas esculturas. Esta pá aleatória é uma delas.
Nesse dia passamos agradáveis 60 minutos esperando por um ônibus sob sol de 35ºC.





E ontem foi aniversário da Chiocca. A proposta da festa era ir com uma maquiagem bem diferente. E, é claro, eu e a Le fomos incumbidas de maquiar todos os convidados da festa, porque afinal aqui NINGUÉM usa maquiagem. Eu fui de gueixa e a Le de menina-fofa-do-campo. Fizemos brigadeiros e caipirinhas. Nem repararam que o brigadeiro estava horrível (leite condesado ruim, chocolate ruim, granulado não-existente) porque a caipirinha foi servida antes.
Na montagem acima, a Le fazendo o brigadeiro. E até parece que a cozinha é grande e bonitinha, mas é um caos.




Tocaram até cuduro na festa! Também conhecido como funk. Nessa foto parece que estava vazio, mas tinha bastante gente. Foi na casa do Maia, dois andares acima do nosso apartamento. Voltamos cedo, mas acordei às 10h com muita gente cantando "Lança Perfume" na varanda. A festa foi longe.
Todo lugar que vamos conhecemos mais um(a) brasileiro(a) e já viramos melhores amigos da vida inteira.

Tem mais fotos no meu flickr e no blog da Le. Logo menos vamos terminar o cartaz do circuito de cinema do Maia. Ah, e já fui escalada para fazer outro cartaz de outro projeto. E também fomos eleitas as maquiadoras oficiais. Aproveitando da gente? Magina.

Beijo. Beijo.